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TDAH: Muito Além da Distração e da Hiperatividade

  • psiquiatriacalazan
  • 30 de jun.
  • 4 min de leitura

Nos últimos anos, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) saiu das sombras dos consultórios para se tornar um dos tópicos mais discutidos em saúde mental. Se por um lado essa visibilidade é positiva para quebrar estigmas, por outro, ela traz o risco da simplificação excessiva e do autodiagnóstico precipitado. Afinal, o que realmente significa ter TDAH?


Este artigo é um guia completo para decodificar o TDAH. Vamos mergulhar na sua neurobiologia, entender suas diferentes manifestações, especialmente na vida adulta, e desmistificar o processo de diagnóstico e tratamento. Se você sente que sua mente opera em um ritmo diferente, este texto é para você.


O Que é o TDAH, de Verdade?

O TDAH não é uma doença, uma falha de caráter ou preguiça. É um transtorno do neurodesenvolvimento, o que significa que o cérebro de uma pessoa com TDAH se desenvolveu e funciona de maneira diferente. Essa diferença afeta primariamente as funções executivas, que são as habilidades mentais que nos permitem planejar, focar, lembrar instruções e gerenciar múltiplas tarefas.


Os sintomas centrais do TDAH giram em torno de três eixos:


Desatenção: Dificuldade em manter o foco, especialmente em tarefas monótonas; tendência a se distrair facilmente; esquecimento de compromissos e perda de objetos.


Hiperatividade: Inquietação física e mental; dificuldade em permanecer sentado; sensação de ter um "motor interno" sempre ligado.


Impulsividade: Agir sem pensar nas consequências; interromper os outros com frequência; dificuldade em esperar a sua vez.


É crucial entender que o TDAH é um espectro. Nem todos apresentam todos os sintomas, e a intensidade varia enormemente de pessoa para pessoa.


A Neurobiologia por Trás do Transtorno: Um Olhar para Dentro do Cérebro

Para entender o TDAH, precisamos olhar para sua base neurobiológica. A principal característica é uma desregulação na via de neurotransmissores, especialmente a dopamina e a noradrenalina.


Dopamina: É o neurotransmissor da motivação, do prazer e da recompensa. No cérebro com TDAH, o sistema de recompensa dopaminérgico é menos eficiente. Isso explica por que tarefas consideradas "chatas" ou de longo prazo são extremamente difíceis de iniciar e manter, enquanto atividades de alto interesse podem gerar um hiperfoco intenso.


Noradrenalina: Essencial para o estado de alerta, concentração e controle de impulsos. Níveis desregulados contribuem para a distração e a impulsividade.


Essa química cerebral diferente afeta o funcionamento de áreas-chave, como o córtex pré-frontal, que é o nosso "CEO" cerebral, responsável pelo planejamento, tomada de decisões e controle de impulsos.


As Três "Caras" do TDAH: Tipos e Apresentações

O TDAH se manifesta de três formas principais, conforme os critérios do DSM-5:


Apresentação Predominantemente Desatenta:


Frequentemente chamado de DDA (Déficit de Atenção).


A pessoa parece "sonhadora" ou "no mundo da lua".


Comete erros por descuido, tem dificuldade em organizar tarefas, evita atividades que exigem esforço mental sustentado e é esquecida nas atividades diárias.


É mais comum em mulheres e muitas vezes passa despercebido na infância.


Apresentação Predominantemente Hiperativa-Impulsiva:


É o estereótipo clássico da criança que "não para quieta".


Inquietação constante, mexe mãos e pés, levanta-se em situações inadequadas.


Fala excessivamente, "solta" respostas antes que a pergunta termine e tem dificuldade em esperar sua vez.


Apresentação Mista:


A pessoa preenche os critérios tanto para desatenção quanto para hiperatividade-impulsividade. É a apresentação mais comum.


TDAH na Vida Adulta: Uma Realidade Muitas Vezes Invisível

Muitos adultos só descobrem o TDAH tardiamente, após uma vida de lutas e incompreensão. Na vida adulta, os sintomas podem se transformar:


A hiperatividade física pode diminuir, mas se manifesta como uma inquietação mental constante.


A desatenção leva à procrastinação crônica, dificuldade em gerenciar finanças, instabilidade profissional e relacionamentos caóticos.


A impulsividade pode se traduzir em decisões financeiras ruins, mudanças abruptas de carreira ou términos de relacionamento.


Desregulação Emocional: A dificuldade em gerenciar emoções é marcante, com baixa tolerância à frustração e mudanças de humor intensas.


Baixa Autoestima: Anos de críticas ("você é preguiçoso", "você não se esforça") deixam cicatrizes profundas na autoimagem.


Diagnóstico e Tratamento: O Caminho para o Bem-Estar

O diagnóstico do TDAH é clínico e criterioso. Não se baseia em um único teste, mas em uma avaliação completa por um psiquiatra ou neurologista, que inclui:


Histórico detalhado desde a infância.


Avaliação do impacto dos sintomas em múltiplas áreas da vida.


Exclusão de outras condições que podem mimetizar o TDAH (como ansiedade, depressão ou alterações clínicas).


O tratamento mais eficaz é multimodal, combinando diferentes abordagens:


Psicoeducação: Entender o próprio cérebro é o primeiro e mais libertador passo.


Terapia Cognitivo-Comportamental e suas derivações: Ajudam a desenvolver estratégias práticas para organização, planejamento e manejo da procrastinação e das emoções.


Medicação: Os psicoestimulantes (e outras classes de medicamentos) são altamente eficazes para regular os neurotransmissores, melhorando o foco e o controle de impulsos. Eles não "curam", mas funcionam como "óculos para a mente", permitindo que o cérebro funcione de forma mais eficaz.


Mudanças no Estilo de Vida: Sono de qualidade, exercícios físicos regulares e uma dieta balanceada são pilares fundamentais para a saúde cerebral.


Viver com TDAH é uma jornada com desafios únicos, mas também com potenciais incríveis. A mesma mente que se distrai facilmente é, muitas vezes, uma fonte inesgotável de criatividade. A energia que gera inquietação pode ser canalizada para uma paixão contagiante.


Se você se identificou com o que leu, não hesite. Procurar uma avaliação profissional não é um sinal de fraqueza, mas um ato de coragem e autoconhecimento. Entender seu cérebro é o primeiro passo para aprender a trabalhar com ele, e não contra ele, e finalmente alcançar seu verdadeiro potencial.


Aviso: Este texto tem caráter informativo e não substitui uma consulta médica. Se você suspeita ter TDAH, procure um profissional de saúde qualificado.

 
 
 

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